Brasilia-VassourasRJ

Brasilia-VassourasRJ
Brasilia-VassourasRJ

No feriadão de 21 a 24 de abril, tive a oportunidade de retornar ao Rio de Janeiro depois de quatro anos sem visitar o estado. O motivo, participar do décimo encontro nacional do BOG – Boulevard Owners Group, realizado na cidade de Vassouras.

PLANEJANDO
Normalmente quem vai para de Brasília para o Rio segue pela BR-040, por 1100Km e 14 pedágios. Duas concessionárias, VIA040 entre Brasília e Juiz de Fora, e CONCER entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro. Dois modelos diferentes de concessão de rodovia, um novo federal (onde ganha quem cobrar menos do usuário) e um antigo estadual (onde ganha quem pagar mais ao estado concedente). Enquanto a VIA040 cobra R$2,30 para as motos em cada um dos 11 pontos de cobrança, a CONCER tem apenas três pontos de cobrança e cobra mais que o dobro: R$5,60!

Como já conheço a BR-040 “de cor e salteado” pelas inúmeras vezes que passei por ela de moto enquanto trabalhei no Rio e morava em Brasília, planejei conhecer uma rota diferente e evitar todos os pedágios! O trecho inicial pela BR-251 até Unaí, e então uma estadual até Paracatu, é velho conhecido e bem tranquilo. De Paracatu pela BR-354 passando por Vazante, Lagamar, Patos de Minas, Formiga até Perdões no entroncamento com a BR-381 (Fernão Dias) foi o “território desconhecido” escolhido.

Dali de Perdões pra frente existem várias opções, estradas que já passei uma vez ou outra. Pra tentar algo interessante, incluí no plano passar por São Tomé das Letras, entrando e saindo pela terra (uns 50Km), no trecho de Carmo da Cachoeira a São Bento Abade, São Tomé das Letras até Cruzília. De Cruzília pra frente, asfalto até Bom Jardim de Minas e descer a serra pro Rio por Santa Rita de Jacutinga e talvez uns 5km de terra. Isso considerando as imagens de satélite do Google Maps. Chegando no Rio, tudo asfalto pelas serras até Conservatória, Quirino e Vassouras.

De 1100Km do roteiro “normal”, para 1300Km do roteiro alternativo. E saindo quarta a noite, pra adiantar 300Km, deixando 1000Km pro dia seguinte, parecia bem viável, mesmo considerando as terras e serras. Puxado, certamente, mas viável.

PARTINDO
No dia 20/4, após o expediente, encontrei meu parceiro de viagem no posto, e as 20h partimos. A M1500 geniosa não quis partir, tive que empurrar a monstra e fazer pegar no tranco. Mau sinal para iniciar a viagem. Seguimos pelo eixo monumental, passamos ao lado do congresso, fizemos o cumprimento habitual desrespeitoso, e seguimos adiante passando pela Ponte JK, Jardim Botânico, Presídio da Papuda e então entramos na BR-251. Vários passeios já fizemos por aqui, então mesmo à noite e sem iluminação a estrada é velha conhecida. Pra minha surpresa os buracos encontrados no passeio de 15 dias atrás já estavam tampados. A estrada tem uns dois anos que foi recuperada, estava bem ruim em todos os trechos, mas hoje permite viajar a noite sem surpresas. Chegamos em Unaí e abastecemos a moto e a barriga. Pegamos o caminho para Paracatu, onde a pista é bem mais escura, ladeada de cerrado alto na maior parte do trecho. Aqui o perigo seria algum animal na pista. Aproximadamente na metade do caminho, encontramos três buracos e consegui catar todos eles! Foram os únicos do trecho. Pernoitamos em Paracatu mesmo, 100Km depois, pois já era um pouco mais de meia-noite e dali em diante seria estrada desconhecida, então melhor não abusar da sorte. Adiantamos 270Km do roteiro, nas 4h do percurso.

SE PERDENDO
Na quinta cedão, 6:20h já estávamos de café tomado e partindo do hotelzinho. O acesso para Guarda-Mor é bem sinalizado e não tem erro. A estrada sinuosa, subindo e descendo colinas, algumas curvas bem fechadas, mas asfalto perfeito, dando confiança. Pouco movimento. Até vazante seriam uns 120Km. O sol foi aparecendo, e a paisagem sempre muito boa. Passamos por Guarda-Mor, tudo tranquilo, e continuamos seguindo. Entramos numa outra serra, curvas e mais curvas, km aumentando, e nada do acesso para Vazante. Notei que a direção da estrada (sul) não era a esperada (sudeste), mas podia ser apenas o contorno da serra. Quando o hodômetro deu 240Km, 20 a mais do esperado para chegar em Vazante, e nem sinal da cidade, ou de placas indicativas, parei. Passarinho informa então que sua gasolina estava acabando! Entrou na reserva agora? Não, acabando total mesmo! Um carro parou a alguns metros e fomos conversar, pegar umas dicas. O casal informou que passamos MUITO da entrada. Não vi entrada nenhuma! Resolvemos retornar, rodar até a moto secar, e então ir a Vazante buscar gasolina. A 883 do Passarinho esgotou após 260Km rodados, e paramos na entrada de uma fazenda, na sombra. Levei a mochila dele para trazer o galão de gasolina dentro, e fui devagar fazendo a gasosa render ao máximo. Como estávamos andando devagar, estimei que seria possível chegar em Vazante, pela informação dada pelo casal do carro. Foram 20Km até achar o acesso correto da cidade. E uma placa informava mais 21Km até lá. E eu já com 280Km rodados na M1500. Bora devagarinho que a gente chega! Com 290Km cheguei numa vila, e já parei perguntando se alguém vendia gasolina. Dei sorte, comprei 2 litros com uma senhorinha que já tinha tudo pronto. Deve ser comum a situação por aqui. Cheguei na cidade, completei o tanque (ainda tinha 2 litros, justamente os da vila), e o posto não tinha o galão homologado pra venda. Improvisamos com um galão de óleo de 3 litros, e fui lá resgatar o parceiro, 40Km atrás. No final, um trecho de 120Km pra fazer em 1h, virou uma confusão de 270Km e 4h. Fomos sair de Vazante as 10:30h da manhã.

CRUZANDO A BR-354
Entre Vazante e Lagamar, atravessamos uma serra muito boa, sinuosa. Curta, mas bem divertida que vale a pena conhecer. Mais à frente um trevo dividiu o time. Passarinho voltou pra BR-040, abasteceu em João Pinheiro e retornou à Brasília. Eu segui em frente pela BR-354, passando por Presidente Olegário, Patos de Minas por volta das 12:30h, Carmo do Paranaíba, Guarda dos Ferreiros, num ritmo tranquilo. Pista simples, conservada (sem buracos, muito remendo bem nivelado), e ainda pouco movimento. No entroncamento com a BR-262 (Uberaba – Araxá – BH), por alguns KM as duas BR andam juntas e relembrei a passagem por aqui vários anos antes, indo pra BH. Melhorou bastante, naquela época era buraco e remendo/calombo o tempo todo, tanto que chegou a cair o espelho da Virago 535 que tive. Após o segundo entroncamento das duas rodovias, a BR-354 continua pela Serra de Campos Altos, uma maravilha! Tem um mirante onde em um dia bom de sol você pode observar quilômetros e quilômetros de campos centenas de metros abaixo. Estrada perfeita pra quem curte curvas. O tempo voa quando a gente se diverte e passo por Bambuí, cruzo o Rio São Francisco em Iguatama, atravesso Arcos, Formiga e finalmente chego em Perdões por volta das 18h. Boa rota alternativa pra evitar os pedágios.

100MIL KM NA BOULEVARD M1500
Após a parada em Perdões, para abastecer e lanchar, dei uma olhada no odômetro pra conferir e agora falta pouco para “virar a contagem”. Coisa velha isso, da época dos rotativos. Agora digital não vira. Segui pela Fernão Dias, já anoitecendo. Abandonei a idéia de ir pela terra para São Tomé das Letras, então segui pra Três Corações, entrando no trevo da área industrial. Peguei a MG-167 pra Cambuquira, e faltando 5Km para a cidade, o momento mágico dos 100mil Km na Boulevard M1500. Talvez a primeira do país a chegar nessa Km, mas isso é o de menos. O importante é comemorar a robustez e confiabilidade da moto, que nunca precisou de NADA fora da manutenção básica. Comprei ela no RJ, zerada, assim que baixou de preço após o lançamento. Nunca mais viu concessionária! Rotina de manutenção simples: óleo e filtro a cada 3000Km (conforme o manual), e revisão COMPLETA a cada 15mil Km. E completa quer dizer que desmonta TUDO, só deixando o motor no quadro. Lubrifica tudo, engraxa tudo, troca os fluidos de bengala, freio, etc. Sabem o que ela mais trocou nestes anos? O rolamento superior da mesa do guidão. A moto é pesada, passei por muita estrada remendada e umas terrinhas, e isso desgasta o rolamento. A estradinha é estreita e sem acostamento, mas no ponto dos 100mil havia um espaço de terra ao lado, como uma pequena rua marginal, e ali que parei, fotografei, filmei, pra relembrar esse momento. E no alto-falante a música After Dark, tema da apresentação sensual de Shalma Hayek no filme Um Drink no Inferno, completou o quadro.

De Cambuquira segui pela BR-267 até Caxambú. Tempo bom, lua cheia, visibilidade boa, mas já cansadão, fui devagar serpenteando pela estrada sinuosa. Não tinha mais pressa, pelo horário já não ia mais descer a serra. Finalmente entrei em Caxambu. Já havia passado pela entrada duas vezes, vindo de Cruzília e indo para São Lourenço, ou vindo de Campanha e indo para Juiz de Fora, mas nunca tinha entrado. Uma cidade famosa também pelas suas fontes de água mineral, assim como São Lourenço. Um frentista indicou um hotel bom e barateiro, e sem seguida já estava descansando de mais um dia divertidíssimo na estrada. Ao todo neste dia foram 920Km em 15h.

SERRA DA MANTIQUEIRA
Nas andanças anteriores pela região, atravessei a Serra da Mantiqueira em vários pontos. Desta vez procurei por outra passagem que ainda não fiz, e acabei escolhendo a descida por Bom Jardim de Minas até Santa Isabel do Rio Preto. Um trecho bem sinuoso, passando por Santa Rita do Jacutinga, e pela imagem de satélite do Google Maps, seria a passagem com menos terra, uns 5Km apenas. Outras opções próximas tinham bem mais trechos de terra.
Após o pernoite em Caxambu, segui pela BR-267 até Bom Jardim de Minas, abasteci na cidade e comecei a descer a serra. O frentista alertou pra ter cuidado com os buracos na estrada, então fui calminho, curtindo a música. Paisagem lindíssima, você não sabe se olha pra estrada ou pras montanhas! No meio do caminho, uma placa alerta para um trecho de terra, talvez resultado de alguma erosão que derrubou a estrada. Nada complicado, foi um trecho curto de 500m no máximo. E então cheguei em Santa Rita do Jacutinga, ainda em MG. Cidade bem pequena parecendo tranquila de tudo. No portal da cidade, virado pro lado do RJ, uns estudantes de segundo grau fazendo pedágio pra custear alguma festa. Fazia tempão que não via isso, lembrei da minha época eheh.

A surpresa foi o asfaltamento completo deste trecho do portal até a divisa com RJ, que seria de terra no mapa do google. Mais uma imagem velha detectada, faz parte. Continuei no rumo de Santa Isabel do Rio Preto, e chegando nela vi a placa indicando Conservatória à esquerda, e Volta Redonda à direita. Até rodei uns 4Km no sentido de Conservatória, o roteiro “correto” para Vassouras. Mas pensei… Depois que eu chegar no evento, não vou mais sair, e o retorno vai ser por caminho mais longe daqui, então a chance de “bater aquela foto naquela cidade” é agora! Fiz o retorno e voltei até as placas, pegando então a direção de Volta Redonda.

BOULETRAIL ROQUEIRA
Cruzei a Serra da Mutuca, curtinha, e rapidamente cheguei na próxima cidade chamada Nossa Senhora do Amparo. Logo na entrada havia uma placa informando Volta Redonda em frente e Quatis à direita. Não tive dúvida, vamos para Quatis, que é vizinha do alvo. Logo o asfalto acabou, mas a estrada ainda estava boa na saída da cidade. Perguntei para um pedestre por ali quantos quilômetros seriam até Quatis, e ele informou que seria algo em torno de 10 a 20 quilômetros. Nesse piso bom aqui, tá de boa parceiro! Segui em frente e logo a coisa fedeu. A estradinha chama-se RJ-143 e neste trecho passa por várias fazendas e colinas. Sinuosa, charmosa, mas com muito cascalho solto e vossorocas cruzando a estrada no mesmo sentido de rodagem. Em vários pontos fica muito estreita, passando apenas um carro. Digamos que não seria um bom lugar pra andar de custom pesadona. A cada 4Km parei pra bater foto e coincidentemente havia começado uma seleção de classic rock que casou muito bem com o momento. Na primeira foto, ainda no início, Nazareth cantava OUR LOVE LEADS TO MADNESS. Já associei ao amor pela Boulevard e a loucura de passar por aquela estrada. A segunda parada foi ainda mais emocionante. Whitesnake tocando HERE I GO AGAIN, e a letra da música mandando essa mensagem: “Aqui vou eu de novo, por conta própria, pelo único caminho que conheço…”. Nesse momento eu estava descendo um ladeirão estreito todo ferrado de cascalho e buracos. A terceira parada, um trecho mais relax, só pedregulho, com Pink Floyd tocando WISH YOU ARE HERE. Nessa hora queria que os amigos estivessem ali juntos para compartilharmos essa aventura, apreciar a paisagem dessa estrada. Cara, eu tava curtindo muito essa travessia. Acho até que um cisco caiu no meu olho. Prossegui vários Km, passando por muitas porteiras de fazenda, gado leiteiro, e um caminhão empoeirando tudo em mais uma ladeira estreita. Cheguei na linha do trem, uma ponte ferroviária gigantesca atravessando o vale entre duas colinas. Começou a aparecer sinais de movimento, construções e carros, então saquei que já estava perto de Quatis. Agora só tinha cascalho e buracos, daqueles de entrar com a moto inteira dentro. Devagarinho e com cuidado, aprendizado de outros trechos de terra (e tombos) anteriores, venci os 18Km do trecho sem quedas ou grandes sustos.

O MOTIVO
Todo esse desvio maluco foi apenas pra chegar em uma cidade chamada Porto Real e bater umas fotos. A diversão foi brincar com a versão brasileira do seriado de TV Game of Thrones, onde a capital da civilização, chamada King´s Landing, foi traduzida justamente para Porto Real. Rodei um pouco, conheci a cidade mas não encontrava a prefeitura. Descobri que mudou de local e as placas ainda estavam indicando o antigo lugar. Parei num mercadinho, era 12:30h, estava um calorão infernal e eu de jaqueta/colete/luva preta, suando mais que tampa de chaleira. O rapaz do mercado passou várias dicas para chegar na prefeitura nova, e acabou revelando ser filho de motociclista, doido pra obter a habilitação e pegar estrada! Batemos um bom papo. Encontrei a prefeitura, algumas construções interessantes, a placa de bem vindo à cidade, e então rumei logo pra Vassouras, o objetivo final.

Entrei na Dutra, passei por Barra Mansa, peguei a saída para a BR-393. Atravessei Volta Redonda, Barra do Piraí e finalmente as 14h estava chegando no X BOG NACIONAL, o encontro anual do Boulevard Owners Group, que reúne amigos fãs dos vários modelos desta incrível moto da Suzuki. Um grupo onde vale a amizade independente da moto que possuem. Irmãos de Alma e Estrada ™.

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KM inicial

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BR-354 em Patos de Minas

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Entrada de Iguatama, ponte sobre o Rio São Francisco

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100000Km

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O ponto dos 100mil, de dia, pelo google street view

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Um pequeno trecho de terra na descida da Mantiqueira

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Entre Nossa Senhora do Amparo e Quatis, no começo achei que seria facinho

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Divisa municipal

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Cruzando a linha do trem

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Antiga estação ferroviária na chegada em Quatis/RJ

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Visitando a capital dos 7 Reinos

3 Responses »

  1. Belo relato e estradas escolhidas
    Minha fazer 600 está com 131793!!!

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