O trajeto pelo Buquebus é de 2h, e atracamos por volta de 11h da manhã ao lado de Puerto Madero, o trecho reformado do porto que virou local badalado. Saímos do porto e fomos rodando tranquilos devido ao feriado de Natal. Praticamente ninguem nas ruas! Em um posto de gasolina pegamos as dicas para chegar na Avenida Cordoba, bem no centro, onde reservamos o hotel. Logo em seguida já estavamos entrando na Avenida 9 de Maio, dita “a maior avenida do mundo”. Realmente é enorme (larga), com oito pistas de cada lado! A visão desta chegada é maravilhosa, ainda mais estando de moto, curtindo o belissimo dia de sol! Repassei mentalmente toda a viagem até aqui, enquanto ia passeando por aquele avenidão! Comemoramos bastante e lembrei que a viagem ainda estava na metade! Daqui pra frente era “só” a volta! 😉
Após instalarmo-nos no hotel, um predio antigo onde o elevador parecia improvisado dentro do poço de ventilação (só cabiam duas pessoas), nos informamos sobre os passeios interessantes e shows de tango. A programação era ficar apenas duas noites em Buenos Aires, então não podíamos perder os horários. Marcamos para a noite uma ida ao show “Complejo Tango”, e para o dia seguinte uma excursão à foz do Rio Paraná. E então fomos, de moto, caçar o almoço no distante bairro da Recoleta, a “pequena Paris” com seus bares e restaurantes com cadeiras ao ar livre. Em toda esta viagem, fomos super bem tratados por todos os uruguaios e argentinos. A chegada com a moto exerce alguma magia nas pessoas, um misto de curiosidade e admiração, que abre sorrisos por todos os lados. Exceto, é claro, com a garçonete do restaurante que escolhemos… pior pra ela que não ganhou gorjeta no Natal. 😉
A Lilian tem uma bateria que não acaba! Assim como caminhamos horas em Punta, Montevideu e Colonia, é lógico que aqui em Buenos Aires não seria diferente. Exploramos toda a área de restaurantes, depois o famoso cemitério, a Igreja da Nossa Senhora da Recoleta (que gerou o nome do bairro), todo o parque da cidade… por pouco nao andamos de pedalinho! Meu erro foi não ter levado tênis de caminhada, o que provocava dores nos pés e uma canseira danada (e também porque não estou acostumado com essas atividades esportivas primitivas, desmotorizadas). O tênis adequado ficou em casa pois ocupava muito espaço, e nos alforges não cabia mais nem um pen-drive!
Depois retornamos ao centro, com direito a um trajeto meio perdido onde fui parar no porto novamente! Aí ficou fácil, pois já sabia o caminho até o hotel! E fomos conhecer a Rua Florida (parecia o calçadão da Ivo Silveira em Floripa, óióióió!) e outros pontos interessantes como o Obelisco, a Praça de Maio, Casa Rosada, Cabildo (uma das construções mais antigas, a primeira cadeia e sede administrativa da cidade), Catedral Metropolitana e alguns museus próximos. Tudo a pé, obviamente!
Mais tarde, já de volta no hotel, aguardamos o microônibus que nos levaria ao show de tango. Pessoal, que show! Espetacular! Dividimos a mesa com uma família mexicana, que ficaram curiosos com nossas histórias de viagens de moto. E todos nós impressionados com a qualidade do show (e do vinho e carne argentinas também!). Em um momento do espetáculo, os artistas batem fotos com o público, para recordação. E há também um pouco de dança, onde pude apresentar a qualidade dos meus passos, estilo “Coisinha de Jesus”. Enciumados, talvez por eu estar hipnotizando algumas bailarinas, os dançarinos exaltaram-se, me escoltando ruidosamente para fora do estabelecimento sob os olhares incrédulos da Lilian e demais participantes do público. Mas era tudo parte do show, uma brincadeira que fazem. Inesquecível, não? 😉
No dia seguinte, 26/12/07, fizemos a excursão à foz do Rio Paraná, um passeio que ocupa o dia todo mas é muito interessante. Onibus até San Isidro, uma espécie de “cidade de campo” de Buenos Aires, onde os abonados passam férias. Depois um trecho de trem até uma outra cidade à beira do rio, e então o passeio de barco pelo delta do Paraná e Rio Tigre, um sistema de ilhotas habitadas e vários canais navegáveis. Vale a pena, sai do lugar comum! Retornando à Buenos Aires, aproveitei o comercio aberto e visitei uma loja de modelismo ao lado do hotel! Não tenho nada a ver com essa coincidência, pois foi a Lilian que fez as reservas! Várias horas lá dentro observando muitas raridades. E descobrindo que a loja não tem site na internet, não vende pelo correio, não tem lista de estoque, entre várias outras coisas básicas. Depois não sabem porque a loja fecha! A única coisa que comprei nesta viagem: um kit dificil de achar da XT600, Protar, escala 1/9. Eu mesmo tive que levar no correio e despachar pro Brasil, pois como sabem, não tinha espaço nos alforges! Essa desculpa foi muito boa, pois a Lilian também não comprou nada, apenas um perfume no freeshop do Buquebus! 😉
Então, no dia 27, décimo-segundo dia da viagem, começamos o retorno, partindo de Buenos Aires cedinho, rumo a Rosário. Não sei até hoje porque raios fui pra Rosário, pois na verdade a entrada pra estrada até Uruguaiana é bem antes! Só fui descobrir isso num posto de gasolina em Rosário, onde o frentista também era estradeiro, tinha uma Shadow 600 customizada e já tinha até visitado Sampa em um aniversário dos Abutres MC. Resolvemos seguir adiante e pernoitar em Santa Fé, que foi uma grande surpresa. É uma magnífica cidade, arquitetura colonial espanhola, história preservada. Foi nesta cidade que a primeira constituição da Argentina foi feita, após a independência. Um pernoite rápido e no dia seguinte já estávamos com o pé na estrada rumo a Passo de Los Libres e Uruguaiana, a fronteira Argentina/Brasil. No meio do caminho atravessamos um túnel de dois quilômetros por baixo do Rio Paraná! E um contratempo: devido ao forte calor, Lilian tirou as luvas e uma vespa entrou pela manga, picando-lhe o braço. Nada muito grave, mas com o tempo inchou e incomodou bastante.
Estradas perfeitas, visual do pampa, sem montanhas no horizonte. A rota tem trânsito intenso de caminhões e não é duplicada, mas achei bem segura. Em nenhum ponto houve dificuldade com abastecimento. Chegando a um trevo uns 100km antes de Passo de Los Libres, finalmente a “fama” da Polícia Argentina comprovou-se. Eu já estava achando que ia ser o primeiro viajante a não ser achacado numa viagem por aquele país. O “seu guarda” mandou parar, aproximou-se, elogiou a moto, rodeou um assunto e depois pediu uma contribuiçãozinha para a festinha de ano novo. Descobrimos então a utilidade dos 16 pesos que sobraram no bolso! Uma hora depois, já estavamos na aduana da fronteira dando saída na Argentina e retornando ao Brasil.
PRÓXIMA PÁGINA
Clique nas fotos para ampliar
“Não explico porque ando de moto! Para quem gosta, não é necessário,
e para quem não gosta, nenhuma explicação é possível”
Autor desconhecido
|
Relacionado