Que gasolina coloco na moto?

Que gasolina coloco na moto?

Atualizado periodicamente conforme novidades vão surgindo, como a nova regulamentação de Agosto 2020. O artigo original foi publicado no Jornal Mundo das Motos em Agosto/2007, Edicao 49. 

Volta e meia escutamos esta dúvida, pois atualmente as opções são tantas que realmente confundem o consumidor. “Uso sempre a premium!”, diz um. “Eu só uso a comum!”, diz outro. E assim vai por todas as marcas e tipos de gasolina disponíveis. Conversando com os amigos, às vezes surgem até receitas milagrosas: “mistura 50% dessa com 45% da outra, mais 5% de aditivo tal! A moto vai ficar um foguete!”.

Então, fiz um levantamento das informações sobre as gasolinas da Petrobrás, Ipiranga, Shell e Texaco, o qual repasso aqui para os amigos. Posteriormente complementado com pesquisa nos sites das marcas ALESAT, TOTAL e RUFF.

TIPOS DE GASOLINA

No Brasil temos a gasolina comum, a aditivada e a premium. A gasolina comum é praticamente igual para todas, pois vem da mesma fonte: Petrobrás. A diferença começa na gasolina aditivada, onde cada distribuidora usa uma receita “secreta” de aditivos. E finalmente a tipo premium é uma gasolina mais forte, de maior potência (veremos isso ali na octanagem).

É bom lembrar também que TODAS tem adição de ÁLCOOL ANIDRO (sem água, chamado ETANOL) conforme obrigatório por lei aqui no Brasil. O valor é de 27,5% de etanol para a comum/aditivada e 25% de etanol para as gasolinas premium.

Por que usamos álcool?

A gasolina pura é de baixa octanagem, e os motores a combustão funcionam “comprimindo” a mistura ar+gasolina! A evolução tecnológica em busca de potência foi criando motores com taxas de compressão sempre crescente, e a gasolina pura não aguentava o tranco, explodia antes do combinado e quebrava o motor. Assim rapidamente a gasolina precisou de um produto anti-detonante para melhorar sua resistência a compressão e explodir somente no momento certo, com a faísca da vela. O produto que a indústria padronizou pra isso se chama CHUMBO TETRA-ETILA!

E ISSO É CONHECIMENTO DE 130 ANOS ATRÁS!

Entretanto, com o passar do tempo se descobriu que o chumbo-tetra-etila era venenoso (cancerígeno e muitos outros problemas). O banimento mundial do chumbo na gasolina foi um movimento lento e gradativo de décadas, o que levou para a pesquisa e utilização de outros produtos anti-detonantes. 

O Brasil baniu o chumbo já em 1990 (Governo Collor) e escolheu o álcool anidro (sem água, chamado etanol) para ser o anti-detonante da gasolina. Já éramos pioneiros mundiais no uso do álcool combustível (algo elogiado pelos outros países!) e claro esta decisão também teve um componente político/empresarial de apoio à indústria alcooleira brasileira.

Outros países escolheram produtos diferentes como o MTBE na Europa. Nos EUA a política de não importar petróleo de países “inimigos” também levou ao uso do etanol na gasolina, mas em valores baixos como 10%.

Ter álcool na gasolina não é ruim, ruim é a falta de fiscalização e a impunidade! Situação que não elimina a adulteração da gasolina com tudo quanto é porcaria. Não adianta nada ela ser ótima na porta da refinaria, chegar bichada pra gente na bomba de combustível, e não termos um sistema de punição funcionando!

ADITIVOS

Basicamente identifiquei nesta pesquisa teórica dois tipos de aditivo: os xampus limpantes, que limpam os resíduos da explosão, descarbonizando velas e válvulas. Deixam as “artérias do coração” da moto limpas!. E há os redutores de atrito, que são os aditivos que dão um jeito para que o cilindro/pistão escorreguem melhor. E redução de atrito significa melhor rendimento do motor, menor consumo!

Agora, tem que prestar atenção pois nem toda aditivada tem os dois aditivos. Em 2007 comparando as marcas, Petrobrás e Ipiranga ofereciam aditivada apenas com o xampu limpante. A Texaco e a Shell inovavam com a sua gasolina que tinha o xampu mais o redutor de atrito. Para diferenciar das demais, eles chamavam este produto de “gasolina super-aditivada”.

Um ponto “negativo” para as aditivadas é a possibilidade de falta de padronização, já que a mistura é feita da distribuidora para o posto. As três grandes (Petrobrás, Ipiranga e Shell) tem um controle maior, mas as bandeiras menores como Alesat, Tottal e outras, ficaremos na dúvida. Não encontrando aditivadas das grandes bandeiras, prefiro colocar a gasolina comum mesmo.

OCTANAGEM

Uma palavra bem complicadinha de explicar! Octana é uma medida da resistência à detonação. Ou seja, quanto a gasolina aguenta de pressão antes de explodir. Existem três formulas de cálculo da octanagem, a MON, a RON e a IAD. O método IAD é simplesmente uma média entre a MON e a RON, e apenas UM país utiliza isso: EUA! O Brasil usou IAD até agosto 2020, quando a nova norma passou a considerar o método RON e acompanhar o resto do mundo.

As nossas gasolinas já foram mais fracas de octanagem muitas décadas atrás, mas atualmente as informações dos fabricantes dizem que não devem nada ao resto do mundo. No Brasil estão disponíveis gasolinas com 93 octanas RON (comum e aditivada), e as gasolinas premium a partir de 98 octanas RON.

COMPARATIVO DAS GASOLINAS

Fizemos o levantamento das informações técnicas nos sites dos fabricantes. E nem sempre a informação está fácil de achar! Mas o que conseguimos levantar pode ser verificado na tabela abaixo.

Comparando as informações técnicas acima, vemos claramente uma vantagem das aditivadas da Ipiranga, Petrobrás e Shell sobre as outras marcas, pois elas possuem os dois aditivos, limpador e redutor de atrito. Isso bate com os relatos de melhoria do consumo obtidas com o uso dessas gasolinas.

Em todos os fabricantes e distribuidores, as tipo premium foram recomendadas somente para “veículos importados de alta performance”. Essa gasolina mostra toda sua força em motores com taxa de compressão acima de 10 pra 1. Assim, utilizá-la em motos “normais” parece ter mais efeito psicológico do que prático. E ainda machuca o bolso, pois é bem mais cara.

Na dúvida, leia o manual da sua moto e procure saber qual a taxa de compressão do motor. Acima de 10:1 a recomendação é gasolina premium. ATENÇÃO LEIA AS ATUALIZAÇÔES MAIS ABAIXO!

CONCLUSÕES

1 – Em motos “normais” que não são de alta-performance, gasolina premium só pra gastar dinheiro, pois é mais cara, não te traz potência, faz o mesmo trabalho da aditivada (limpa e reduz atrito). A premium só tem vantagem pela durabilidade, leva muito mais tempo para formar “gosma” e é boa pra quem deixa a moto parada por semanas.

2 – A gasolina super-aditivada tecnicamente é a melhor escolha, pois melhora o consumo de gasolina devido à redução do atrito, sem ser tão mais cara que a gasolina premium. Dependendo do seu ritmo mensal de KM rodado, vale a pena!

3 – Gasolina comum só em emergências na estrada, e mesmo assim cuidado com a “cara” do posto, pois infelizmente a gasolina adulterada é uma realidade para todos os tipos de gasolina!

4 – Em último caso, uma aditivada das bandeiras menores/desconhecidas, se não tiver gasolina comum pra usar (raro!).

5 – Controle sempre o consumo a cada abastecimento! Anote os dados, registre de alguma forma, e acompanhe sempre! O consumo varia muito com o tipo de gasolina utilizada, e pior ainda se pegar adulteração. Pegue SEMPRE o cupom fiscal ou a nota fiscal e em caso de desvio muito grande, denuncie para a ANP com vontade (veja este vídeo sobre como denunciar um posto)!

ÚLTIMA DICA

Se você está usando a gasolina comum há muito tempo, não troque para aditivada rapidamente, sob pena de soltar um monte de sujeira e entupir carburador ou outra parte do circuito de alimentação!

Quando for abastecer, coloque 80% de comum e 20% de aditivada, e vá usando. No próximo abastecimento, aumente a dose de aditivada, e vá controlando.

ATUALIZAÇÕES

Atualização de 2012: Depois de conhecer a teoria, comecei um teste prático acompanhando o consumo da Boulevard M800 e depois com a Boulevard M1500. A análise está neste texto: https://www.elbando.com.br/2012/09/06/gasolina-teste-pratico/

Atualização de 2014: viajei pro exterior – Argentina, Uruguai, Chile, México, Estados Unidos – e conheci gasolinas mais fracas como a 85 octanas IAD americana, e mais fortes como a 97 octanas argentina. Nós brasileiros temos que parar com esse mimimi de que a nossa gasolina é a pior do mundo. Não é!

Atualização de 2017: A Ipiranga comprou a rede da Texaco no Brasil, e lançou uma gasolina SUPER-aditivada chamada DT CLEAN, e uma premium de 96 octanas IAD chamada OCTAPRO. A Petrobrás também lançou uma SUPER-aditivada chamada GRID. A Shell mudou o nome da Premium V-Power para V-Power Racing.

Atualização de 2017: A ALESAT foi comprada pela empresa suíça Glencore, e a rede ZEMA foi comprada pela empresa francesa TOTAL.

Atualização de 2020: No dia 3 de agosto 2020 entrou em vigor uma nova norma técnica para a gasolina brasileira. De coisa boa, foi colocado um valor mínimo para a densidade, o que eleva o patamar de qualidade do produto. Teoricamente fica mais fácil de fiscalizar adulterações com outros líquidos. Houve também a mudança do método de cálculo da octanagem, saindo o IAD e entrando o RON (internacional). Nessa “canetada” nossa gasolina 87 IAD passou para 92 RON. Agora fica mais fácil de comparar com as gasolinas do exterior, exceto EUA e Canadá que ainda usam IAD. Na prática não mudou nada. A ALESAT lança sua gasolina aditivada e premium.

Atualização de 2021: Hoje temos uma salada de frutas nos postos, em relação à octanagem. A Shell e Ipiranga informam que a comum/aditivada deles tem 92 octanas RON. A Petrobrás informa que a comum/aditivada dela já está com 93 RON. No caso das gasolinas premium os sites dos fabricantes informam 103 RON para a Ipiranga Octapro, 98 RON para a Shell V-power Racing, e a Petrobrás não informa a octanagem da Pódium (mas encontrei boatos de que também atingiria 103 RON). Lembrando sempre que elas tem xampu + redutor de atrito.

Atualização de 2022: Conforme a evolução dos parâmetros da nova norma, atualmente as gasolinas comum/aditivadas tem 93 octanas RON de mínimo autorizado. Os sites das empresas continuam péssimos nas informações técnicas claras e explícitas.

Fonte de pesquisa: sites da Ipiranga, Petrobrás, Shell, ALESAT, REDE TOTAL e RUFF

3 Responses »

  1. Bressan, otimas colocações, perfeita a análise. Eu também já busquei informações sobre todas as gasolinas e de fato, para os motores cuja compressão esteja abaixo de 10:1 não há necessidade de gasolina premiun. Tenho 3 exemplos meus: Burgman650 taxa 11,2:1 ; Outlander GT V6 taxa 10,5:1 , nestes dois motores observei que o uso da premiun faz sentido devido à alta compressão, na Outlander usando a V-Power normal estava “castanhando” o que indica algum inicio de pré-detonação. Mudei para Podium, acabou o som de “castanhar”. O 3o exemplo e minha Himalayan 2023, venho usando so por experiência a Podium, sempre antes usei a V-Power, e neste motor nao se nota diferença, a taxa de compressão é de 9,5:1 então.vai bem qualquer uma. O que eu sinto, como impressão, desde sempre, a mim parece que com as V-Power o motor trabalha mais lisinho do que com Podium, e achei interessante vc comentar que há os aditivos de reducao de atrito: deve ser isso que percebo.
    Obgd pelo artigo, excelente.
    Abs

  2. Sempre usei gasolinas v power shell, ultimamente estou usando a podium e observei uma melhora na economia, não observei ganho de potência ou outra mudança.
    Como estou usando pouco a moto, vou continuar usando a podiam.

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