4500Km de Continental GT

4500Km de Continental GT
4500Km de Continental GT

Em 2018 a programação de férias foi diferente dos três anos anteriores. Em vez de 30 dias direto, peguei um bloco de 20 dias para ir ao Jalapão, e deixei um bloco de 10 dias para visitar meus pais em Florianópolis. A viagem para o Jalapão pode ser lida aqui, e agora vamos contar como foram esses 10 dias!

Resolvi ir com a Continental GT, uma Café Racer da Royal Enfield, pois seria um percurso essencialmente asfaltado de Brasília até Floripa e retorno. Ia fazer um ano com ela e ainda estava com 8000Km rodados apenas, tava na hora de botar uns KM na magrela!

Pra ficar legal e dentro do meu hábito de conhecer estradas novas, bolei um roteiro indo pra São Paulo pelo interior de Goiás e SP fora da habitual BR-050 + Anhanguera. Na volta, uma esticada para o oeste de SC visitar o Régis (El Bando) e retorno pela BR-158 de SC, PR, estradinhas do interior de SP, e então MS e GO até Brasília. O máximo possível por estradas que nunca fiz antes.

Uma café racer para viajar longe? Tu é maluco? Não, sou estradeiro, e uso o que tem na mão! Se eu quisesse ser racional e ter conforto, iria de avião não é mesmo? Bagagem mínima, pois não preparei nada de acessórios pra ela e vou com mochila nas costas. Revisão já tinha sido feita aos 5000Km, óleo trocado e reapertos, agora é só ligar e ir embora. Para um roteiro pelo sul-sudeste, todo urbanizado, cheio de cidades pelo caminho, não precisa de ferramenta, sobressalente, tralharada que só pesa. Se der zebra chama o seguro e reboca, é pra isso que pago! Juntei três mudas de roupa, escova de dente, capa de chuva e fui.

Dia 19/12 iniciei a viagem. Brasilia, Luziânia, Vianópolis, caminho velho conhecido da rota para Caldas Novas, com uma serrinha bem legal pra curtir as curvas. Em Vianópolis já começo a pegar um rumo novo, a GO-330 em sentido a Ipameri e Catalão. Estrada boa, pista simples, com acostamento, ladeada por campos e plantações. Em uma cidade chamada Orizona, parei para amarrar o zíper do colete, que cismava em abrir. Muita velocidade, sabe como é! Kkkk Fui numa loja de roupa na beira da estrada e consegui um barbante. Fiz um laço grande e amarrei o zíper no pescoço mesmo. Seguindo adiante, passo por Pires do Rio e Ipameri, onde 20Km antes e depois desta cidade tem muito buraco na estrada. Daqueles panelões que acabam com a viagem, se te pegar desprevenido. Devagar (80Km/h) fui passando e desviando, ainda tinha pedaços bons no centro da via.

Após Ipameri vem a saída para Catalão, que seria o roteiro óbvio. Não pra mim. Vou pra Cumari e sigo para uma cidadezinha chamada Anhanguera, já na divisa de GO com SP. Ali pego uma estrada estadual que descobri ter sido asfaltada recentemente. No meio do trecho tinha só um pedacinho de terra devido a uma ponte ferroviária ainda não construída, nada grave. Ruim foi ter voado em duas lombadas altas e não sinalizadas antes desse desvio de terra. Lembrem desse momento porque mais pra frente teve problema. A meta do dia era pernoitar em Jundiaí na casa do amigo Pillekamp. Entrei em SP já muito atrasado, então cortei a rota por estradas vicinais paulistas e toquei pela Rodovia Anhanguera mesmo. Velocidade de cruzeiro acima do limite, mas não muito. A GT vai a 150 de máxima, não precisei abusar tanto. Por volta das 21h cheguei em Jundiaí. 1000Km rodados no primeiro dia.

No dia 20, segundo dia da viagem, me despedi do Pillekamp e Tata, e fui pra Sampa. Uma passada na oficina Royal para ver a causa do barulho na corrente. Pelo estralado, já imaginei que tinha gastado o guia de corrente, um plástico que protege a balança. Ocorreu na Teneré250 durante a viagem Amazônia 2017, troquei esse guia em Macapá! Mas essa é outra história. Muito bem atendido na Royal pelo Claudinei, expliquei o barulho e pedi pra eles também trocarem o óleo. Cheguei em Sampa com 10000Km. Algum tempo depois, o diagnóstico foi a relação ovalada, então a corrente esticava e folgava, e nessa folga ela batia na balança. O guia de corrente estava gasto mas não era hora de trocar ainda. A causa? Aquelas duas lombadas goianas que voei pela estrada. Solução, troca a relação toda! 300 reais, achei barato. Relação original da Tenere250 em Goiania foi 400, e a da Vstrom650 paralela de ótima qualidade foi 950!

Óleo e filtro trocado, moto na mão, hora de ir pro boteco. Nas 3 semanas antes da viagem, convidei a galera de Sampa para uma confraternização de fim de ano, bolamos uma brincadeira para reunir a turma, um concurso de customização das Royal Enfield com votação pelo facebook, conseguimos reservar o Rockwheels e no início da noite começou a chegar a rapaziada. Levei alguns brindes, peguei outros pela cidade, e o Borges representando o Marketing da Royal também trouxe outros brindes. Para os vencedores do concurso de customização e das viagens mais longas que conseguimos registrar durante o ano, entreguei alguns certificados que eu mesmo bolei e imprimi. O que é a vida se não fizermos uma baita festa comemorando a passagem de mais um ano, com muitas amizades e estrada?

LINK YOUTUBE VIDEO DIA 2

Durante a confraternização, a Royal confirmou o convite e na sexta-feira 21/12 (data do fim do mundo segundo os Maias) tive a oportunidade de fazer o mega test-ride da Himalayan, o primeiro com pessoas fora da equipe de fábrica. Estou esperando essa moto desde 2016 só! Muita ansiedade durante 2017 e 2018 perturbando geral sobre quando ela chegaria. Até campanha fizemos! Cedão no escritório conheci mais gente da equipe Royal, e também minha parceira no teste, a tampinha Moara Sacilotti, primeira mulher a disputar o Rali dos Sertões e recordista de participações, campeã de outros Ralis nacionais e internacionais. Eita porra! Recebemos as motos, orientações, e saímos para Salesópolis guiados pelo Borges. No meio do caminho apareceu a equipe de filmagem. Eita porra! Achei que ia fazer um passeizin morno, o trem foi cabuloso! Era a produção do vídeo de lançamento da moto! Uma honra e tanto poder participar disso. Sou só um proprietário pentelho e piloto amador. No final do dia foram 350Km rodados, com quase 50 de terra, onde pudemos conferir em primeira mão que a motoca está bem adequada para o uso no Brasil. Dormi sorrindo nessa noite.

Mas a viagem deve continuar, o Natal está chegando e ainda não cheguei em Florianópolis! Sabado cedão foi hora de sair de São Paulo. Como já conheço a rota pelo litoral, pela BR-116 e pelo Rastro da Serpente, a opção para conhecer estradas novas foi sair para a SP-250 e descer a Serra da Macaca. Apesar de ser um trecho lento no início (muito trânsito e pista simples), depois que passa Ibiúna o ritmo melhora. Almoço em São Miguel Arcanjo e depois cruzo a famosa serra. MOOOOITO LEGAL. Ela era de terra e foi recentemente pavimentada com blocos intertravados. É uma estrada-parque, em meio à mata. Fantástica, vale muito conhecer. Dali segui para a BR-116 (Régis Bittencourt) e encontrei os amigos de Curitiba no portal da Serra da Graciosa. Luciano, Cequinel e José já estavam lá me esperando.

Após algumas fotos e já observando o horário, pegamos um trecho da estrada antiga, 4Km por terra e pedras, até chegar na parte asfaltada antiga, e então novamente na BR-116. Continuamos juntos para SC, com a idéia de fazer a Serra Dona Francisca, mas pelas 18h começou a chuva na divisa PR/SC, e em um posto de gasolina em Joinville já de noite decidimos parar a loucura kkk. Cequinel e Luciano tem Classic 500 e fazem off-roads pela região, conhecem as quebradas. Vão comigo pra Transamazônica em agosto 2019. O plano do dia era pernoitar em Rio do Sul, na casa do amiguirmão Sérgio Nehring parceirão de moto-aventuras. Do posto segui para Guaramirim, percorrendo mais uma estrada nova. Mas com cinco merdas ao mesmo tempo pra lidar, estrada desconhecida, de noite, chuva forte, embaçamento da viseira, e notícia de trecho esburacado à frente, resolvi parar e pernoitar em Guaramirim mesmo. Hotel Andardac, show de bola!

No domingo 23/12, quinto dia da viagem, parti de Guaramirim com tempo ótimo ensolarado. Segui para Jaraguá do Sul e então peguei a rota do Vale Europeu, passando por Pomerode, Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra, Apiúna, Ibirama e finalmente Rio do Sul. Estrada muito bonita, do jeito que eu gosto sinuosa e cheia de relevo. As curvas são brinquedo de fazer com a GT e seus pneus sport demon. Só não pode se empolgar muito pois a estrada é movimentada, com pouco acostamento. A paisagem também te distrai muito, não sei se olho pras montanhas, pro vale, pros sítios ou pra estrada!

Cheguei a tempo para o almoço na casa do Sérgio, reunido com amigos e familiares. Após o almoço e botar a prosa em dia, fui pro último trecho de estrada antes de chegar nos meus pais. A segunda parte do Vale Europeu, até chegar na BR-282 e descer para o litoral. Muita curva, agora sendo BR e com bastante movimento. A serra estava nublada e fria, mas sem chuva. Por volta das 19h estava entrando em Florianópolis e rapidinho chego em casa para passar o Natal.

Natal com a família, coisa boa! Desde o Natal de 2007 não ia rodando pra Floripa nessa época. Passei alguns anos indo de avião rapidinho, sem folga ou férias nessa época sempre disputada. Em 2017 fui rodando de Vstrom650 na época do carnaval, quando fiquei duas semanas trabalhando na cidade. Aproveito pra rever a família, que é grande!

E também conhecer novos amigos. Após o Natal marcamos um encontro com os pioneiros de Royal Enfield da cidade. Reunimos cinco pessoas no tradicional boteco da avenida beira-mar norte. Thys, primeirão comprador da Classic 500 em 2017, fundador da Fanpage. Depois chegaram o Denoni, Jefferson e Matheus de Indaial. Muito bom conhecer todos pessoalmente, após vários bate-papos pelas redes sociais. Teve até test-ride das motos!

Passado o Natal, era hora de pegar estrada, pois as férias eram curtas e dia dois de janeiro teria que estar em Brasília para o trabalho. O objetivo agora é visitar o amigo Régis, integrante do El Bando e agora morando em Chapecó, oeste de Santa Catarina. A rota é pela BR-282, estrada que conheço de carro quando percorri ela nas minhas primeiras férias de trabalho em 1995. De moto só tinha feito o trecho de Urubuci a Floripa. Agora vou mais longe, para o “oeste desconhecido” kkk

Parti cedo, e o trânsito urbano ainda não estava pesado. O vento na ponte Colombo Sales nem estava muito forte ainda. Passei São José, Palhoça e peguei o acesso para Santo Amaro da Imperatiz, iniciando a subida da serra do mar. Já falei que gosto de curvas e colinas né? Bom demais! Abasteço em Bom Retiro já perto do trevo para Urubici. Quem não conhece essa região ainda, venha, porque tem muita coisa legal por aqui, natureza exuberante.

A estrada vai passando e chego em Lages. Aqui a 282 cruza com a BR-116 ,que já conheço nas duas direções, indo para RS ou para PR. Agora tem um contorno rodoviário, não precisa mais passar por dentro da cidade. Pego a saída para o oeste. Em 1995 quando passei, daqui pra frente era de terra! Atualmente está tudo asfaltado, e muito boa qualidade. Lembro que rodamos pela terra muito tempo, terra ruim, poeirenta, região serrana, e após São José do Cerrito quando vi uma saída para Curitibanos, peguei. Continuou uma bosta, mas o trecho de terra era menor. Até balsa tinha! Passando de moto, cheguei nessa bifurcação pra Curitibanos (ainda de terra) e as risadas lembrando da presepada que foi essa viagem em 95.

Pelo meio da tarde estou atravessando a região de Joaçaba, outra cidade grande do oeste catarinense. Aqui é região do Vale do Contestado, que tem esse nome devido a uma GUERRA CIVIL ocorrida por volta de 1910! Pense! Na minha época de escola não se ensinava isso, fui aprender agora depois de velho. Em Vargem Bonita cruzo a BR-153, outra gigantesca rodovia norte-sul do Brasil, e logo em frente uma placa marca o início da região chamada Grande Oeste.

Mais pra frente vejo o tempo fechar e dá tempo de botar a capa de chuva. No sul, a capa é essencial, chuvas aleatórias a qualquer momento, coisa rápida. Quando a água passou e abriu o sol de novo, fiz mais uma parada pra tirar a capa. O trecho seco não durou muito, após contornar várias colinas cheguei em outra nuvem, e desta vez o horizonte indicava que seria longa. Cheguei em Chapecó anoitecendo, por volta das 18h. Estranhei o horário mas é a latitude já influenciando. Um telefonema e logo em seguida Régis apareceu e me guiou até a casa dele. Muita comemoração e papo de estrada, apresentando a esposa e o filho bem novinho.

A viagem não para, na manhã seguinte a idéia era fazer a BR-158 de SC, que erroneamente achei que passava em Chapecó. Ela é mais para oeste ainda. Então fui pela estrada estadual mesmo, até o Paraná, e lá fiz a BR-158 paranaense. Ficou uma desculpa pra voltar e fazer os trechos de SC e RS que faltam. Trecho muito bom, pista simples, sinuosa e divertida. No Paraná fui seguindo a BR, passando por Pato Branco, Chopinzinho, Saudade do Iguaçu, Laranjeiras do Sul. Quando aparecia alguma dúvida consultava o mapa off-line no celular. Sem grandes surpresas ou erros de rota.

Cheguei em Palmital, onde começa o trecho de terra da BR-158 no Paraná. Ela ainda não está terminada, ficou pela metade. Reaparece asfalto lá pra Campo Mourão. No carnaval de 2018 fiz o trecho de São Paulo e norte do PR, agora farei este do sul e centro do estado. Almoço em Palmital e reabasteço. Pego umas dicas sobre a condição da estrada. Confirmo que está seca, “boa” e que são 42Km pela área rural. A Continental GT é uma Café Racer, não é uma moto todo-terreno! A suspensão e a posição de pilotagem são 100% asfalto. Mas sabemos que qualquer moto vai a qualquer lugar, só depende do piloto e sua vontade. Estrada rural, seca e patrolada? BORA VIVER! Viajar como nossos antepassados fizeram 50 anos atrás quando não existia moto trail ainda. Nem asfalto! Eles foram e sobreviveram, então nós vamos também. E vai dar certo!

Legal né? Texto motivacional… tipo isso durante o almoço quando estava me convencendo a entrar naquela estrada. Botei a rota no mapa off-line, liguei o radinho bluetooth e zarpei. A tiazinha do gps falou “siga em frente por 42km!” e ficou muda o resto do trecho. Ajudou muito, tia! Na primeira bifurcação já parei pra xingar e perguntar pra alguém. Não demorou muito até passar um carro de morador e me orientar. Mapa off-line não adiantava, a bifurcação não estava no mapa. E baixar a imagem de satélite, esquece! Não tinha cobertura celular, muito menos 3G. Se é pra viajar igual o vovô, que seja no faro e na conversa.

O trecho estava seco, e no final das contas foi muito bonito. Dá pra ver nas fotos. Algumas ladeiras com pedregulhos maiores e soltos no início. Praticamente só tem um caminho, não tem por onde se perder depois daquela primeira bifurcação. Chego em um rio, e as placas confirmam o caminho: BR-158!!! Um dia vai ter uma rodovia asfaltada por aqui, hoje é só uma estradinha rural de terra e pedra. Após o rio, ela melhora um pouco, fica mais larga, plana, menos pedra e mais terra firme.

Mas o tempo passou rápido. Quando chego na cidade chamada Roncador, estou atrasado em relação ao objetivo do dia, pernoitar em Presidente Prudente e visitar mais um amigo. Teria mais centos km de terra até Campo Mourão. Opto por seguir pelo asfalto, acelerar, e no fim da tarde ainda estou passando por Maringá. A estrada asfaltada para SP piora muito, cheia de buracos. O ritmo cai e quando anoitece, chuva. Acabei parando em Iguaraçu para o pernoite.

Pela manhã sigo a estrada para SP. As rotas a leste (Taciba) e oeste (Teodoro Sampaio) já fiz em viagens anteriores. Agora vou por Estrela do Norte. Não sei qual destas três rotas eu e meu pai fizemos em 1987, quando fizemos o trecho entre Presidente Prudente e Londrina. Lembro de Maringá mas não tenho certeza se foi nessa viagem. Saio cedinho do pequeno hotel em Iguaraçu, atravesso a divisa estadual na megaponte sobre o Rio Paranapanema, e só passo por Presidente Prudente. Acabo não entrando na cidade nem visitando o amigo, que claro ficou bravo com o furo. Mas já era sábado, eu só tinha o domingo pra terminar a viagem e chegar em casa. Segunda trabalho. E ainda tinha muito chão pela frente. Contorno a cidade e sigo pela SP-501 para Alfredo Marcondes, Santo Expedito e Irapuru. Quando chego na SP-294 e vejo a placa citando Adamantina, resolvi passar por lá. Uma pequena alteração rápida na rota, para abastecer, almoçar e fazer uma gracinha com o nome da cidade e alguns amigos fãs da Marvel.

De Adamantina sigo para Valparaíso. No mapa o trecho aparece como vicinal, mas perguntando pro frentista e pro pasteleiro, eles confirmam que foi asfaltado. Vou por ali mesmo, passando por Valparaíso. Agora conheço três cidades com esse nome, indo de moto. Em Goiás, no Chile e em São Paulo! Kkk O último trecho no estado de São Paulo é Andradina, Ilha Solteira e Santa Fé do Sul. Região das três fronteiras estaduais, SP, MS e MG, e do Marco Zero do Rio Paraná. Mais algumas curiosidades geográficas no currículo motoca.

Entro no Mato Grosso do Sul por Aparecida do Taboado, e retorno à BR-158, agora no MS. Esse trecho fiz vários meses antes na viagem de carnaval. Estrada boa, asfalto ainda bem conservado apesar do tráfego de caminhões pesados. Com a idéia de percorrer novas estradas, planejei entrar em Goiás pela BR-483 entre Paranaíba/MS e São Simão/GO. Devo ter confundido alguma coisa, memória embaralhou as pesquisas, não sei. Só sei que atravessei a cidade, cheguei na entrada da BR-483 e… era de terra.

Eu lembro de ter visto que era asfaltada. Mas ok, eram apenas 40Km e deve ter asfalto no trecho goiano. O trecho MS estava ótimo, bem larga, conservada, pouca poeira, pouca costela de vaca. Cheguei a botar 80Km/h, confiante no piso. Chegando na divisa estadual, pelo que lembrava do mapa teria uma ponte, algumas casas e o asfalto. O final da estrada no MS piora um pouco, mas nada grave. Chego nas casas, são bares. Estão cheios de carros, e provavelmente bêbados. O sol já está indo pro fim de tarde, não dá pra socializar. Atravesso a ponte para entrar em Goiás e nada de asfalto. Um terrão poeirento, bancos de saibro fininho solto, quase areia. Mais pra frente pertinho tem o entroncamento com a GO-302, o asfalto deve estar ali.

Que nada! Quando cheguei nesse entroncamento que caiu a ficha. Não tem asfalto! E já está indo pro fim de tarde, não vou voltar pra MS. Temos que ir pra frente, rumo a Brasília. “Pra trás nem pra pegar impulso!”, como diz Sérgio meu parceirão de viagens doidas. Se não há o que fazer, decidido está. Bora pra frente. Consulto o mapinha off-line e o diacho informa 111Km para a Cachoeira Itaguaçu, onde tenho certeza de asfalto. Vai anoitecer no meio do trecho, então não há tempo a perder com paradas. Gasolina tem! Agora é enfrentar o terreno, uma estrada rural sem conservação, praticamente fofa de areia/terra. Percorri uns 30km assim, devagar e sempre. Ninguém na estrada. Quando encontro um outro motoqueiro, faço sinal pra ele parar e pego informações. O asfalto é 70Km não 111. Maldito mapa digital. Com 70Km ainda dá pra chegar antes da noite cair, penso eu de forma otimista. Na terra ruim daquele jeito, tudo é imprevisível. Já levei 8h pra fazer 50Km de terra no Mato Grosso, de Vstrom, imagine agora de Café Racer com suspensão curta, pneus cheios e sabe-se-lá o que tem pela frente.

Dentro das possibilidades oferecidas pelo terreno, ACELEREI! Fiquei de pé na moto (pense!) e apertei as esporas! A moto pulava e corcoveava, mas prosseguimos bem, sem tombos. Mais uns 20Km chegamos em uma fazenda. Tudo mudou! Saímos da terra bruta e entramos em uma estrada conservada, sinal de trânsito rural. Piçarra, pedregulhos e buracos agora. Eu de pé, o sol baixando, e o pau quebrando a 60Km/h. Os punhos já cansados, mas o aprendizado do offroad nos ensina a não brigar com a moto, deixa corcovear e vai se equilibrando. E desviando dos buracos, quando enxerga! Na velocidade, melhor ir reto também, e deixar a suspensão sofrer, do que ficar dando guinadas com pneu liso e risco de perder a frente. E eu contando KM pra passar o tempo e criar esperança! Falta 20…. falta 15…. segura peão!… .Falta 10… oia o buraco!… falta 5… opa, já dá pra ver a luz de postes da vilazinha… falta 4… caraca estou chegando… falta 3… falta 2…. falta 1… passo uma ponte e PQP OBRIGADO DEUS! A Cachoeira Itaguaçu é fantástica! Ao lado um bar para tirar a poeira da garganta e uma pousada para o merecido descanso. Me acomodei, jantei com a família dona da budega e fui dormir. Cheguei tenso e dolorido, mas inteiro. A moto também. Caraca como aguentou a pancadaria! Só a corrente está empoeirada e seca, mas tenho o spray aqui na mochila.

E no domingo a viagem continua…

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